Estive em Areias, cidade do Vale Histórico, próxima a Bananal, São José do Barreiro, Arapeí e Silveiras, todas com um passado glorioso no período do café. Os nobres cafeicultores mais ricos lá moravam, lá plantavam café, lá escravizarão muitos negros cativos e lá ganhavam muito dinheiro. Em Bananal chegou a circular moeda própria, cunhada pelo poderoso Manoel de Aguiar Valim, o barão de Aguiar Valim.

Em Areias estava atrás das descrições sobre as tantas visitas de d. Pedro II e da Princesa Isabel na região. Muita gente fala que houve, mas há poucos documentos que realmente comprovem essas visitas. Que elas aconteceram eu não tenho dúvida, afinal a região se localiza na divisa com o Rio de Janeiro e possuía muitas ligações com a poderosa aristocracia do Vale fluminense. As cidades do Vale Histórico eram tidas como um refúgio dos nobres fluminenses. Inclusive os relatos orais que chegou até nós descrevem que as visitas do Imperador e da Princesa às cidades de Areias e Bananal sempre foram de cunho particular, para participar de saraus, bailes e encontros com cafeicultores fluminenses e paulistas. Nada muito oficial. O que mais gostaria de encontrar eram os detalhes do baile que a Princesa Isabel deu em 1888 em Areias para todos os nobres cafeicultores (e escravocratas) da região, em comemoração à libertação dos escravos.

Essa falta de oficialidade é que dificultou em muito encontrar documentos, jornais ou atas de câmara citando tais ilustres visitas. Na Casa de Cultura de Areias, bela residência no centro da cidade, onde já foi um cartório que Monteiro Lobato trabalhou e escreveu seu livro “Cidades Mortas”, funciona atualmente um museu e o arquivo municipal. Aliás, percebi bem porque Monteiro Lobato esteve entediado quando trabalhava em Areias. Durante todo o dia que estive lá, devo ter avistado cerca de 30 pessoas ao todo. A cidade é muito bonita, mas bem vazia, mais parecendo cenário de novela das 6 da Globo.

O Arquivo está em excelentes condições. Os documentos cartorários encontram-se bem organizados em pastas e prateleiras, por data e assunto. Porém, os demais tipos de documentos ainda precisam de melhor acondicionamento e organização. Há 2 estantes com muitos documentos policiais do início do século XX, pedaços de livros de registro sanitário, muitas cadernetas escolares e inclusive pedaços das atas da Câmara Municipal de Areias do século XIX. Lá, não encontrei nenhuma referência às visitas dos Imperantes na cidade.

Pesquisei também nos jornais. Há dois livros com todas as edições do jornal “O Mosquito” de 1872 e 1873. Para minha decepção, não há mais jornais de outros anos. Neles, com certeza encontraria pelo menos citações das passagens do monarca e de sua filha pela cidade, mas o tempo levou esses preciosos documentos.

O que essas cidades do Vale Histórico têm de mais rica é a sua história. Foram o primeiro caminho entre a Corte e a capital da província de São Paulo. Por lá, passou d. Pedro I rumo à Independência e lá se hospedou o segundo Imperador e a Princesa Imperial. Muita riqueza foi produzida nas fazendas da região, mas poucas sobreviveram até os dias de hoje. Perdeu-se muito da história daquele local, tanto em documentos como os jornais, quanto do belíssimo patrimônio arquitetônico. E a tradição oral, que ainda carrega consigo alguns resquícios fantásticos da história dos poderosos barões daquelas terras está se esvaindo como a memória que se acaba com o tempo. Algo precisa ser feito por lá ou aquelas cidades estarão fadadas ao destino cruel de Monteiro Lobato.