1878: uma viagem expressa pelos trilhos do trem

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Gostaria de relembrar que trago aqui apenas trechos da minha monografia, dando destaques aos principais acontecimentos e breves análises sobre a viagem de d. Pedro II em 1878 pelo Vale do Paraíba. Divirtam-se!

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1878 era ano de eleições nas diversas municipalidades do Império e os republicanos começavam a tomar corpo com a vitória de alguns candidatos. A aprovação da Lei do Ventre Livre em 1871 fomentou a ira dos cafeicultores das províncias do sul e, principalmente dos escravocratas valeparaibanos.

A prova de que os republicanos já incomodavam muitos setores da política está no jornal Gazeta de Taubaté (11 de agosto de 1878, p. 2) que relata: “a força pública de Jacarehy tomou o largo da Matriz, fez exercício de fogo, debandou o povo e tomou o paço municipal. Ouviam-se gritos de morram os republicanos!” e complementa mais à frente “os republicanos venceram nas Araras. Os republicanos e os conservadores na Limeira”. Há vários relatos de abusos de poder, brigas e uso necessário da força pela polícia para conter os desgostosos. “Em Jacarehy a força de linha foi obrigada a retirar-se. Houve uma liga entre fazendeiros. Os republicanos triunfam” (Gazeta de Taubaté, 11 de agosto de 1878, p. 2). O poder da monarquia começava a ser questionado não somente pelos primeiros republicanos, mas também pelos mais radicais do Partido Liberal.

Sabendo da importância que a presença de sua figura iria causar nas elites valeparaibanas é que d. Pedro II refez o caminho percorrido pelo seu genro um ano antes, “inaugurando” novamente cada estação de trem das cidades da região. Tratava-se de uma viagem expressa, com pequeno espaço para as cerimônias pomposas e para os encontros demorados com os políticos locais – agradando ao Imperador que já estava cansado desse tipo de ritual pomposo e bajulador.

Às 14h40, d. Pedro II, a Imperatriz Thereza Cristina e toda a comitiva chegaram à Guaratinguetá. Após breve recepção na estação de trem, seguiram de carruagem até o palacete do Visconde de Guaratinguetá, “onde lhes foram servido jantar, durante o qual a banda de música tocou” (MOURA, 2002, p. 112). Dali visitaram a igreja Matriz e a Santa Casa de Misericórdia (Diário do Norte, 11 de setembro de 1878, p. 2). Era desejo da Imperatriz uma visita à capela de Nossa Senhora Aparecida, mas foi negado por d. Pedro II que, talvez pela necessidade de logo embarcar para São Paulo, furtou-se de conhecer a capela tão visitada por sua filha. Em carta ao amigo Conde d’Eu, o Visconde de Guaratinguetá transpassa sua decepção com a negativa do Imperador em visitar a capela, que estava toda preparada para a ocasião. […] Eu senti que S. Majestade lá [na capela de Nsa. Sra. Aparecida] não fosse para ver com o estado de adiantamento em que vai aquela importante obra […]. Eu tinha mandado armar a Igreja, e tudo estava disposto para a recepção imperial (1878 apud MOURA 2002, p. 127).

Partiram dali para Pindamonhangaba. Na manhã seguinte visitaram alguns prédios públicos e foram até o palacete do Barão da Palmeira para contemplarem a vista do “soberbo Vale do Paraíba e a majestosa Serra da Mantiqueira” (MARCONDES, 1922, p. 35). O convite do Barão da Palmeira não se restringia apenas para que a família Imperial se deslumbrasse com a vista da região. Para a ocasião, ele havia mandado remodelar todo o seu palacete, trazendo um arquiteto e um decorador da França, além de adquirir vários objetos de decoração e utensílios domésticos de alto valor financeiro e artístico.

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Em Taubaté, o jornal Gazeta de Taubaté (11 de agosto de 1878, p. 3) traz a notícia da chegada do monarca de forma bem diferente daquela feita quando a Princesa Isabel pisou em solo taubateano. Usando da sátira, o jornal flerta com uma fina ironia à figura intelectual do Imperador e também faz duras críticas à pompa e à ritualística empregadas na recepção do monarca, afirmando que enquanto as lavouras da região carecem de investimento, d. Pedro II e as elites da região estão mais preocupadas com os “dias de gala” que a monarquia irá oferecer na cidade. “E o que é mais notável é – que os empregados públicos são os que mais lucram com a vinda da Majestade: que o diga cá o redator da história, em?” (Gazeta de Taubaté, 11 de agosto de 1878, p. 3). O articulista continua sua sátira às tantas pompas e cerimônias preparadas pelas cidades que recepcionaram d. Pedro II na sua rápida passagem, fazendo uma pequena poesia:

Já lá vai um dia de grande gala.

Em Lorena, a mesma cantilena!

Em Guaratinguetá…ta…ta…

Em Pindamonhangaba, o mesmo doce de goiaba.

Em Taubaté, o mesmo rapapé.

Em Caçapava… nada caçava… (Gazeta de Taubaté, 11 de agosto de 1878, p. 3).

Em 2 de outubro retornaram a Taubaté, chegando ás 10 horas da manhã e permanecendo por um período mais longo que na ida. A estação estava devidamente enfeitada com flâmulas, bandeiras e flores, além da presença do “Sr. Dr. presidente da câmara municipal, autoridades civis, clero e, numerosamente, povo em número superior a 1000 pessoas” (Gazeta de Taubaté, 6 de outubro de 1878, p. 2).
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Novamente o redator do Gazeta de Taubaté faz uma análise muito perspicaz sobre a importância que todo o jogo teatral de poder da monarquia, com sua pompa e circunstância, tem na formação da posição política de muitos cidadãos, sejam eles nobres ou não:

Não desgosto dessas manifestações, não senhores. Ao contrário, regala-me ver o povo como as cruzetas dos ventos que se movem ao menor sopro. Porem não gosto de ver o servilismo em ação quando se trata de certos, independentes e determinados caracteres que bem podiam abdicar da sem cerimonia com que se manifestam – hoje republicanos, amanhã socialistas, mais tarde liberal, conservador… etc. porque um cartório… uma barreira… até mesmo um jantar, fascina-os de tal modo que seria um crime de leso-interesse declinar do plano a que se inclinam” (Gazeta de Taubaté, 12 de outubro de 1878, p. 3).

As pompas da monarquia pareciam encantar menos aos olhos e desagradar mais à razão dos descontentes com o regime nas cidades valeparaibanas.


Livros:

MARCONDES, A. Pindamonhangaba através de dois e meio séculos. São Paulo: Tip. Paulista, 1922.

MOURA, C. E. M. O Visconde de Guaratinguetá: Um Titular do Café no Vale do Paraíba. São Paulo: Studio Nobel, 2002.

Jornais:

Diário do Norte, 11 de setembro de 1878.

Gazeta de Taubaté, 11 de agosto de 1878.

Gazeta de Taubaté, 6 de outubro de 1878.

Gazeta de Taubaté, 12 de outubro de 1878.

Documentos avulsos:

Arquivo da Casa Imperial do Brasil, Doc. 8192, de 12 de outubro de 1878.

1868: uma princesa devota

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Procurei reproduzir aqui trechos da minha monografia, destacando apenas os aspectos principais das visitas de d. Pedro II e da Princesa Isabel em cada cidade. Os capítulos 1 e 2, mais conceituais, serão abordados em outra oportunidade.

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Ao alastrar-se, a notícia da visita do monarca gerava grande comoção e fazia muitas cidades se prepararem mesmo antes da formalização da visita. Foi o que ocorreu com Bananal em duas ocasiões: 1845 e 1849. Em 1845, a notícia de que o Imperador estava planejando a sua primeira visita para fora da província do Rio de Janeiro, com destino à São Paulo, exaltou os ânimos dos bananalenses, que vendo-se na rota de uma possível viagem por terra acreditaram que d. Pedro II deveria parar na cidade pela importância econômica de Bananal. Pois bem, a Câmara Municipal mobilizou os proprietários que enviassem seus escravos para consertarem as estradas da cidade. Além disso, organizou uma comissão responsável por criar um programa da visita do Imperador, destinou recursos financeiros para a realização de um Te-Deum na igreja matriz, para os festejos e para as reformas necessárias nas ruas e praças, com a instalação de dois arcos iluminados, além da orientação de que todos os cidadãos enfeitassem suas casas (RAMOS, 1975, p. 141-144). Para decepção dos bananalenses, o Imperador visitou a província de São Paulo, mas não passou pela cidade, embarcando no porto de Santos direto para o Rio de Janeiro.

Nos finais de 1868, a Princesa Isabel e seu recém-esposo Conde d’Eu, foram excursar em Minas Gerais para fazer uso das águas termais, famosas à época para usos medicinais. Na volta, o roteiro da viagem passava pelas principais cidades do Vale do Paraíba paulista rumo à capital da província de São Paulo, onde iriam cumprir uma série de compromissos oficiais (EVANGELISTA, 1978, p. 131).

Porém, o roteiro da viagem dos príncipes teve que sofrer uma redução. O Conde d’Eu havia sido chamado por d. Pedro II para assumir as tropas do Brasil na Guerra do Paraguai e, por isto, deveria abandonar os planos de estender a viagem até a capital.

Finalmente, os príncipes chegaram à Lorena e logo “sendo encontrados por mais de cento e sessenta cavaleiros” (Correio Paulistano, 23 de dezembro de 1868, p. 2) ainda na estrada que ligava Itajubá à Lorena, no local conhecido como fazenda do Campinho. Todos os preparativos foram realizados na cidade, desde reparos nas ruas, até a instalação de arcos, além da tradicional decoração das portas e janelas das casas da cidade. A comissão responsável por esta recepção foi nomeada pela Câmara e tinha a missão de “promover e dirigir os festejos na cidade, a fim de que seja a recepção a mais suntuosa possível” (Ata da Câmara de Lorena de 21 de novembro de 1868).

Para abrilhantar ainda mais a recepção preparada pelo comendador Castro Lima, contratou-se a companhia lírica de Carlotta Augusta Candiani, de enorme sucesso na Corte. “O cel. José Vicente de Azevedo havia feito vir de S. Paulo, a cavalo e em carros de boi, a artista ilustre e toda a sua lírica companhia” (RODRIGUES, 1942, p. 16). A récita de Candiani foi apresentada em um espetáculo de gala no pequeno teatro local, onde a elite lorenense esteve presente.

Visconde de Guaratinguetá

O Visconde de Guaratinguetá, homem mais poderoso em todo o Vale do Paraíba à época, anunciou a chegada da Princesa Isabel e do Conde d’Eu à cidade em sessão da Câmara Municipal de 3 de novembro de 1868. Além disso, ordenou “ao vigário e Mestre da capela para celebrar um Tedeum Laudamus no dia da chegada e afixar edital convidando o povo deste município para fazerem as festas que quiserem por tão fausto acontecimento” (Ata da Câmara de Guaratinguetá,3 de novembro de 1868).

Desta forma, ao adentrarem na cidade, a Princesa Isabel e seu marido, acompanhados pelos cavaleiros que vieram desde Lorena, devem ter se deparado com esse espetáculo descrito pelo hiperbólico articulista do jornal O Parahyba (13 de dezembro de 1868, p. 2):

Quando se aproximaram SS.AA.II., estrondaram nos ares inúmeros foguetes, que se despendiam rápido, e quase sucessivamente de diversas e grandes girandolas, e atroaram o espaço ferventes e entusiásticas aclamações do povo sem distinção de partidos políticos. Ao passarem por sob o arco do centro da cidade duas encantadoras e bem adornadas meninas, simulando dois anjos, derramaram sobre a cabeça dos augustos viajantes como que a sua cornucópia de jasmins e rosas.

No dia seguinte, os príncipes dirigiram-se à capela de Nossa Senhora Aparecida, como já era esperado pelo Visconde.Os príncipes chegaram à capela logo cedo, às seis horas da manhã. Para a Princesa Isabel o momento também era aguardado com grande expectativa, pois além de devota da santa, tinha por objetivo pedir intercessão a Nossa Senhora por dois motivos: que engravidasse dos herdeiros do Império (pois estava em tentativas fracassadas desde seu casamento em 1864) e também que a missão de seu esposo no Paraguai terminasse o mais breve possível e em sucesso (EVANGELISTA, 1978, p. 131).Adentraram à igreja e rezaram uma novena em louvor à santa. Camargo (1970, p. 291) relata, a partir do testemunho ocular do alferes Antônio José dos Santos, que nesse momento “dona Isabel doou a Nossa Senhora um riquíssimo manto com brilhantes, no valor de 18 contos de réis”.Ao saírem da capela, ocorreu mais um momento de êxtase para os ali presentes, principalmente para encanto dos príncipes, como descreve Moura (2002, p. 108):

Saindo à praça, foi o casal homenageado por Antônio Joaquim da Silva Ramos, com um solo de trombone de vara. O músico de Aparecida era dono de um talento inesperado: executava solos com os dedos do pé! Foi grande o sucesso de Antônio Ramos: o príncipe o abraçou, a princesa ofereceu-lhe um lenço de seda e o trombonista foi convidado para tocar nessa mesma noite no baile que, em seu solar da Rua da Figueira, em Guaratinguetá, o visconde ofereceria aos Condes d’Eu.

Antônio trombonista, como era conhecido, era ex-escravo e costumava tocar nas festas da capela. Por possuir um dom especial para a música, emocionou os príncipes, que o levaram a deixar sua condição de anônimo para tornar-se músico profissional. “Dizem que Antônio seguiu para Vila Rica, Ouro Preto e seus estudos foram a expensas da Princesa e até consta que foi para a Europa” (CAMARGO, 1970, p. 293).

No quinto dia de hospedagem na cidade do Visconde de Guaratinguetá, os príncipes decidiram fazer nova visita à capela de Aparecida. Nesta segunda visita dos príncipes à capela, há uma história que contribuiu para a mística envolta à figura da princesa e da santa encontrada no rio Paraíba do Sul. O jornal O Parahyba (13 de dezembro de 1868, p. 3) relata o acontecido como “um novo verdadeiro milagre de N. S. da Conceição Aparecida”. A história foi disseminada pelos jornais da capital da província de São Paulo e também da Corte.
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O jornal Correio Paulistano (22 de dezembro de 1868, p. 2) relatou que um guarda nacional que havia sido escolhido para juntar-se às tropas na Guerra do Paraguai tentou por todas as vias legais deixar de fazer parte do quadro de soldados de guerra. Porém, com a urgência do recrutamento em massa, o delegado de Lorena, José Vicente de Azevedo, não hesitou, mandou prender e algemar o guarda, enviando-lhe à pé até São Paulo. Quando passou por Aparecida, o guarda pediu que parassem para que ele orasse na capela. Neste mesmo instante em que estava ajoelhado orando, adentrou ao templo a Princesa Isabel, o Conde d’Eu, o Visconde de Guaratinguetá e os poucos membros da comitiva que os acompanhavam nesta rápida e não planejada visita. O guarda acorrentado jogou-se aos pés da princesa, implorando a reparação pela injustiça que estava sofrendo, solicitando que lhe fossem tiradas as algemas. A Princesa Isabel então pediu ao Conde d’Eu que ordenasse a retirada das algemas. Este logo se aproximou do tenente que acompanhava o guarda preso e indagou: “Que fez este homem? É assassino, é criminoso?” (O Parahyba, 13 de dezembro de 1868, p. 3). O tenente então respondeu que se tratava de um guarda nacional designado. Surpreso, o Conde exclamou: “um guarda nacional designado! Pois conduz-se, assim, algemado um guarda nacional n’um paiz livre! Oh! sr. tenente, mande tirar estas algemas; o guarda nacional irá como homem de bem” (O Parahyba, 13 de dezembro de 1868, p. 3).

Barão da Palmeira

Após longa estada, finalmente pelo dia 14, às 5 horas da manhã, o casal deixou Guaratinguetá rumo à Pindamonhangaba. A cidade de Pindamonhangaba também tentou encantar o casal durante a breve visita que fizeram à localidade. Nos três dias que ali permaneceram, tiveram como principal anfitrião o Barão da Palmeira, que não mediu esforços para tornar sua estada a mais aprazível possível.

Um dos grandes destaques da estada da Princesa Isabel e do Conde d’Eu em Pindamonhangaba, foi a construção de um bosque pelo Barão da Palmeira. A pedido do titular, o presidente da Câmara comprou uma faixa de terra de aproximadamente 450 m2 que se localizava entre o palacete do titular e o rio Paraíba do Sul, exatamente onde hoje se encontra o parque municipal Bosque da Princesa. A intenção do Barão da Palmeira era construir um requintado lugar onde os recém-casados, pudessem desfrutar de momentos de privacidade. O titular “mandou vir da França botânicos e um desenhista para remodelar completamente o logradouro, resultando num bosque com diversos tipos de árvores, de várias origens e de várias espécies” (GUIMARÃES, 2007, p. 50).

Visconde do Tremembé

No dia 16 de dezembro o casal partiu de Pindamonhangaba e chegou à Taubaté, última cidade da província de São Paulo a visitarem antes de retornarem à Corte, para atender ao chamado de d. Pedro II.

Ao entrarem na cidade de Taubaté, as janelas das casas encontravam-se “cheias de moças, que em todo o trajeto, faziam cair uma chuva de flores sobre o carro em que vinham Suas Altezas Imperiais” (Paulista,20 de dezembro de 1868, p. 3). A casa do então Barão de Tremembé, principal titular da cidade e responsável pela organização e hospedagem dos príncipes Imperiais, encontrava-se com especial iluminação instalada para a ocasião. Haviam sido montados dois coretos em frente ao palacete, onde tocavam as bandas musicais da cidade.

No dia seguinte, logo às 7 horas da manhã, os príncipes Imperiais em companhia do barão e da baronesa de Tremembé foram visitar a capela de Tremembé. Ao saírem da capela, juntou-se a eles o conselheiro Feijó e o juiz de direito da comarca de Taubaté, para visitarem “a Cadeia, o Convento de S. Clara, cemitério anexo e o Hospital de caridade” (Paulista, 20 de dezembro de 1868, p. 3). O hospital visitado se transformaria no futuro hospital Santa Isabel, tendo como patrona e uma das principais financiadoras a própria Princesa Isabel.
Dali partiram no dia 19 de dezembro para Pindamonhangaba, alcançando Guaratinguetá no mesmo dia. Dos três dias que passaram na residência do Visconde de Guaratinguetá, ficou marcado na memória dos presentes o faustoso jantar oferecido pelo Visconde e pelos príncipes à elite local (MOURA, 2002, p. 110). Às 7 horas da manhã do dia 23 de dezembro seguiram para Lorena e depois rumaram para o Rio de Janeiro. Sofreu então Isabel a angústia de ver o marido partir para a guerra, quando tudo estava tão incerto.
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Referências Bibliográficas

CAMARGO, C. B. R. Passagem da Princesa Isabel em Guaratinguetá e Aparecida. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Paulista, vol. LXVII, São Paulo, 1970.

EVANGELISTA, J. G. Lorena no século XIX. São Paulo: Governo do Estado de São Paulo, 1978.

GUIMARÃES, B. Recontando a História de uma Princesa. Pindamonhangaba: São Benedito, 2007.

MOURA, C. E. M. O Visconde de Guaratinguetá: Um Titular do Café no Vale do Paraíba. São Paulo: Studio Nobel, 2002.

RAMOS, A. Pequena história de Bananal. São Paulo: Sangirardi, 1975.

RODRIGUES, Gama. O Conde de Moreira Lima. São Paulo: IGB, 1942.

Jornais

Correio Paulistano, São Paulo, 23 de dezembro de 1868.

Correio Paulistano, São Paulo, 22 de dezembro de 1868.

O Parahyba, Guaratinguetá, 13 de dezembro de 1868.

Paulista, Taubaté, 20 de dezembro de 1868.

Documentos avulsos

Ata da Câmara de Lorena de 21 de novembro de 1868.

Ata da Câmara de Guaratinguetá,3 de novembro de 1868.

Estação Guaratinguetá

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Da terra de Monteiro Lobato fui visitar a terra de Frei Galvão. Guaratinguetá, a 4ª maior cidade do Vale do Paraíba, também teve a honra de receber a visita de d. Pedro II e da Princesa Isabel no século XIX. Naquela época, Guará era uma das mais importantes economias cafeeiras da região e da província de São Paulo, concorrendo diretamente com Taubaté, Pindamonhangaba e Bananal.

Anteriormente consultei basicamente dois trabalhos sobre a histórica da cidade:

  1. MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de. O Visconde de Guaratinguetá: Um Titular do Café no Vale do Paraíba. São Paulo, Studio Nobel, 2002.
  2. CAMARGO, Conceição Borges Ribeiro. Passagem da Princesa Isabel em Guaratinguetá e Aparecida. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Paulista, São Paulo, 67:291-95, 1970.

O livros sobre o Visconde de Guaratinguetá me ajudou imensamente. Há um capítulo dedicado às visitas de d. Pedro II e da Princesa Isabel em Guará. A pesquisa realizada pelo Carlos Eugênio é extensa e muito bem fundamentada. Ele cita todas as fontes, arquivos, conjuntos documentais e acrescenta comentários de outros autores e documentos sobre determinado assunto. Um trabalho profissional. Esse livro pode ser comprado em qualquer loja online ou livraria. Recomendo!

Com base nas informações obtidas, fui à campo. Visitei o Museu Frei Galvão, onde localiza-se o Arquivo Memória de Guaratinguetá. Muita gente se engana, achando que ali estão as relíquias do primeiro santo brasileiro. O museu só leva o nome do filho mais famoso da cidade, mas não expõe seus pertences. Ali funciona um museu dedicado à história da cidade de Guaratinguetá.

Fui muito bem recebido pela Ana e pela Alice, bibliotecária responsável pelo Arquivo. Thereza Maia, maior especialista sobre a história do Vale do Paraíba é quem coordena as atividades do Arquivo, mas infelizmente ela estava na FLIP, em Paraty, quando fui lá. Não tive a honra de conhecê-la pessoalmente desta vez.

Passei dois dias no Arquivo. pesquisei nos raros jornais que ainda sobrevivem. Há algumas edições, de alguns poucos anos relativos ao período que estou estudando. Mesmo assim, encontrei bastante informação sobre a primeira visita de um membro da família Imperial brasileira ao Vale do Paraíba. Em 1868, a Princesa Isabel foi à Minas Gerais banhar-se nas águas termais de Caxambú e Lambari. Aliás, conheci no Simpósio Nacional de História uma colega historiadora que está estudando essa viagem da Princesa por Minas Gerais. Bom, quando ela e o Conde D’Eu saíram de Minas, se dirigiram á São Paulo. O objetivo era visitar a capital da província e as cidades da região de Campinas, porém um chamado da Corte interrompeu a visita da Princesa. Era a Guerra do Paraguai que chamava pelo Conde D’Eu. Os dois foram apenas até Taubaté, interromperam a viagem e regressaram à Corte. Sorte para minha pesquisa.

Pude perceber na documentação, principalmente nos jornais, que essa visita da Princesa Isabel foi marcada por misticismo e lendas. A Princesa era muito devota de Nossa Senhora Aparecida e aproveitou sua viagem para visitar a capela da santa. Aparecida na época era pertencente à Guará. Em sua estada na cidade, visitou por duas vezes a capela. Foi o bastante para surgirem as mais mirabolantes histórias que iam desde libertação de escravos até eventos sobrenaturais. Há dois fatos envolvendo a Princesa Isabel que vale à pena mencionar.

O primeiro realmente aconteceu e foi relatado pelo jornal “O Parahyba”. Um guarda nacional foi preso na cidade de Lorena pelo autoritário delegado daquela cidade. Ao invés de enviá-lo em liberdade para São Paulo, como deveria fazer, mandou acorrentá-lo e ir debaixo de forte temporal. Quando o guarda nacional passou pela capela de Nsa. Sra. Aparecida, pediu para parar e rezar para a santa. Neste exato momento, a comitiva da Princesa Isabel e do Conde D’Eu chegaram à capela. O pobre do guarda se jogou aos pés da Princesa e rogou-lhe clemência. No mesmo momento, a Princesa solicitou ao Conde D’Eu que ordenasse a libertação do presidiário. Daí para o acontecimento virar milagre foi um pulo.

O segundo relato que trago para vocês trata-se de uma especulação que nunca foi comprovada. Nessa primeira visita da Princesa, corre a história de que ela pediu intercessão da santa para que ela engravidasse de um varão, herdeiro do Império. Ao que parece, ela vinha tendo dificuldades em engravidar, o que justificava sua viagem para se tratar nas águas termais de Minas Gerais. Junto à solicitação da graça, a Princesa Isabel doou um manto azul real com 21 pedras preciosas: mesmo manto que veste a imagem da padroeira do Brasil. 16 anos depois, em 1884, a Princesa voltou à capela de Nossa Senhora Aparecida, com seu marido e seus 3 filhos, para agradecer a graça alcançada. Deixou de presente uma coroa de ouro para ser colocada na imagem da santa. Dizem que, como o costume manda, a Princesa varreu toda a capela e colocou um pouco da poeira dentro de seu corpete.

Difícil saber o que é verdade e o que é criação do imaginário popular. Mas, o que mais importa para o meu trabalho é justamente analisar o motivo que levou essas pessoas a criar uma imagem de quase santa para a Princesa Imperial. Que fascínio a imagem da “Redentora” causava naquelas pessoas para acreditarem que ela simbolizava um elo entre Nossa Senhora Aparecida e o povo brasileiro comum? Perguntas que aos poucos vou encontrando respostas.